terça-feira, 6 de abril de 2010

CAPÍTULO 02
RESUMO DO LIVRO O QUINZE

Vicente falou lentamente, no vaivém do balanço:
_É... Aliás, eu não devia andar comprando gado agora... Mas vamos ao curral para você ver os animais que eu tenho.
Afastaram-se para o curral. Quando o vaqueiro montou novamente, o rapaz disse, a modo de despedida:
_Pois de manhãzinha bem cedo mande o rapaz buscar o animal e a ordem do dinheiro para o Zacarias da feira.
Chico Bento saiu com escuro. Pensava na troca. Umas reses tão formosas! Por um babau velho e cinqüenta mil réis de volta! O que é a gente estar na desgraça...
Agora ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar. Sem legume, sem serviço, não havia de ficar morrendo de fome enquanto a seca durasse. Combinou com a mulher o plano de partida. Ela ouviu chorando. Queria ir pro Amazonas, pois lá não morreriam de fome porque sempre há borracha e serviço.
Cordulina sentiu um aperto de saudade e lastimou-se:
_Mas Chico, eu tenho tanta pena da minha barraquinha. Onde é que a gente vai viver por esse mundão de meu Deus?
_Em todo pé de pau há um galho mode a gente armar a tipóia... Respondeu Chico Bento.
O vaqueiro foi até Quixadá no animal que trocou com Vicente para ver se arranjava as passagens de graça que o governo estava dando.
Recebendo o dinheiro do Zacarias da feira, se desfazendo da burra e matando as criaçõezinhas que restavam que é que faltava?
Foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de se transportar a Fortaleza com a família. Só ele, a mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos.
Todas as passagens já estavam cedidas. O jeito era ir por terra.
Cordulina remendava uns panos, quando o vaqueiro chegou:
_Como se foi Chico? Trouxe o dinheiro e as passagens?
_Que passagens! Tem de ir tudo é por terra feito animal! Nesta desgraça quem é que arranja nada! Deus só nasceu pros ricos!
As pessoas começaram a ir embora por causa da seca.
Dona Inácia e Conceição partem de trem. À janela, a moça acenava com a mão, depois com o lenço que vibrava como uma asa fugitiva. Vicente correspondia, sacudindo seu largo chapéu de massa.
Dona Inácia enxugava os olhos que insistiam em lacrimejar. Conceição passou-lhe a mão pelo ombro:
_Que é isso mãe Nácia, ainda chorando?

_Deixar tudo assim, morrendo de fome e de seca! Fazia vinte e cinco anos que eu não saía do Logradouro, a não ser para Quixadá!...
Chico Bento vai embora por terra.
Coloca o pequeno no meio da carga, amarrado por um pano aos cabeçotes da cangalha. Mocinha, a cunhada, levava sua trouxa debaixo do braço, e na mão, os chinelos vermelhos de ir à missa. O sol esquentava, os meninos brigavam, Cordulina e Chico choravam.
Na primeira noite, arrancharam-se numa tapera que apareceu junto da estrada. O vaqueiro trouxe uma manta de carne de bode, seca, e um saco de farinha, com quartos de rapadura dentro.
As mulheres improvisaram uma trempe e acenderam o fogo. E a carne foi assada sobre as brasas. Como não tinha água para lavar, estava muito salgada, estava uma pia.
Chico Bento arranjou água a quase um quilômetro de distância para matar a sede da família.
Debaixo de um juazeiro grande se arranchara um bando de retirantes: uma velha, dois homens, uma mulher nova e algumas crianças.
Quando Chico Bento e seu grupo apontaram na estrada, os homens esfolavam uma rês e as mulheres ferviam água em uma lata de querosene.
Cordulina ofegava de cansaço, Mocinha lambia os pés queimados e os meninos choramingavam pedindo de comer.
O juazeiro era um só. O vaqueiro também se achou no direito de se abrigar lá. Depois de arriar as trouxas e aliviar a burra, reparou nos vizinhos. A rês estava esfolada e mal cheirosa.
Chico Bento se aproxima dos esfoleadores e pergunta:
_De que morreu essa novilha?
Um dos homens levantou-se e disse:
_De mal dos chifres. Nós já achamos ela doente. E vamos aproveitar mode não dar para os urubus e matar nossa fome.
Chico Bento cuspiu longe, enjoado:
_E vosmecês têm coragem de comer isso?
O outro explicou:
_Faz dois dias que a gente não bota um de comer de panela na boca...
_Por isso não! Disse Chico Bento. Eu tenho um resto de criação salgada que dá pra nós. Rebolem essa porcaria podre para os urubus.
E o bode sumiu-se todo...

E AGORA? O QUE SERÁ DA FAMÍLIA DE CHICO BENTO SEM TER O QUE COMER AMANHÃ?

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