segunda-feira, 19 de abril de 2010

CAPÍTULO 03
RESUMO DA NOVELA O QUINZE

Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios.
_Mãezinha, cadê a janta?
_Cala a boca, menino! Já vem!
_Vem lá o quê!...
Angustiado Chico Bento apalpava os bolsos... Nem um triste vintém. Lembrou-se da rede nova que comprara em Quixadá por conta do vale do Vicente. Antes dormir no chão do que ver os meninos chorando, com a barriga roncando de fome. O vaqueiro saiu com a rede.
_Vou ali naquela bodega, ver se dou um jeito...
Voltou mais tarde, sem a rede, trazendo uma rapadura e um litro de farinha:
_Tá aqui. O homem disse que a rede estava velha, só deu isso, e ainda por cima se fazendo de compadecido...
Faminta, a meninada avançou; e até Mocinha estendeu a mão com avidez. O que representava aquilo para tanta gente? Horas depois, os meninos gemiam:
_Mãe, tou com fome de novo...
_Vai dormir! Parece que tá espritado! Soca um quarto de rapadura no bucho e ainda fala em fome! Vai dormir!
E Cordulina deu o exemplo, deitando-se com o Duquinha na tipóia muito velha e remendada. A redinha estalou, gemendo. Ela se ajeitou e ficou quieta, as pernas de fora, dando ao menino o peito repuxado.
Chico bento estirou-se no chão. Logo, uma pedra aguda lhe machucou as costelas.
_Ah! Minha rede! Ô chão duro dos diabos! E que fome!
Levantou-se, bebeu um gole de água na cabaça e inutilmente procurou dormir. A rede de Cordulina que tentava um balanço para enganar o menino_ pobrezinho! O peito estava seco como uma sola velha! _ gemia, estalando nos rasgões.
E o intestino vazio se enroscava como uma cobra faminta e em roncos surdos resfolegava furioso: rum, rum, rum...
De manhã cedo, Mocinha foi ao Castro ver se arranjava serviço, uma lavagem de roupa, qualquer coisa para ganhar uns vinténs.
Chico Bento também já não estava no rancho. Vagueava à toa, diante das bodegas enganando a fome e a lembrança que lhe vinha da meninada chorando e do Duquinha gemendo: “Tô tum fome! Dá tumê!”.
Parou. Num quintalejo, um homem tirava leite de uma vaquinha magra. Chico Bento estendeu o olhar faminto, mas sentiu vergonha. Sentiu a cara ardendo e um engasgo na garganta. Mas lhe zunia ainda aos ouvidos: “Mãe, dá tumê...”.
Mocinha chegou animada:
_Tem lá uma mulher que carece de uma moça mode ajudar na cozinha e vender na estação. Cordulina pergunta quem é.
_Sei direito não... Parece que se chama Eugênia...
_E tu não tem pena de ficar aqui, mais esses estranhos?
_Assim... Quem não tem pai nem mãe, como eu, pra todo o mundo é estranho...
Mocinha despediu-se de seu povo. Cordulina a abraçou chorando. Chico Bento deu-lhe a mão com gesto desafetuoso e mole de sertanejo. Mocinha levantou o Duquinha:
_Adeus, meu bem! Tome a bênção de sua tia! O pequeno a agarrou pelo pescoço.
_Adeus, meu filhinho!
Cordulina o prendeu aos amarradilhos da cangalha. O menino tomou o choro e ficou quase um minuto roxo. Depois tornou e eles partiram.
Deitado numa cama de trapos, arquejando, estava um dos meninos de Chico Bento, o Josias. O ventre lhe inchara como um balão. Estavam arranchados numa velha casa de farinha. Desde a véspera, josias adoecera.
De tarde, quando caminhavam com muita fome, tinham passado por uma roça abandonada. Josias, que vinha atrás, distanciou-se. Ele então foi ficando para trás, entrou na roça, escavacou o chão com um pauzinho numa cova onde um tronco de manipeba apontava. Arrancou-lhe mais ou menos a casca e roeu todo o pedaço amargo e seco, até que os dentes rangeram na fibra dura.
Quando se juntou ao grupo que já estava arranchado, a mãe perguntou:
_Que foi Josias? Você anda abestado ou isso é ruindade? Que foi que andou fazendo?
_Nada não... Fiquei ali...
Chico Bento tinha saído a procura de qualquer coisa e deu também com a roça; com algum trabalho conseguiu arrancar uns pedaços de raiz. Enquanto Cordulina ia raspando para um beiju, Josias ao lado dela fazia de vez em quando uma careta e disse a mãe que estava com dor de barriga. Ele contou a história da minipeba. Cordulina levantou-se assustada:
_Meu filho! Pelo amor de Deus! Você comeu mandioca crua?
Assombrado e sentindo a dor mais forte, o pequeno começou a chorar. Cordulina andou até o terreiro limpo, procurando na terra umas folhas para um chá. E enquanto fazia o chá gritava chorando para o marido:
_Chico! Chico! Valha-me Nossa Senhora! O Josias se envenenou!


O QUE SERÁ QUE VAI ACONTECER COM JOSIAS?
NÃO PERCA O PRÓXIMO CAPÍTULO!

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